martes, 22 de abril de 2008

16º congreso de Leitura do Brasil

La ilustración reproduce una escena del 16º Congreso de Leitura do Brasil

Reproducimos parte del editorial del número 48 de la Revista Leitura: Teoria & Pratica
compartiendo los coceptos centrales que expone su autora.

Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las – ­ Vem aí, o 16 COLE!
NORMA SANDRA DE ALMEIDA FERREIRA[1]

Os versos de Ferreira Gullar - Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las - tema eleito para o 16 º Congresso de Leitura do Brasil que acontecerá de 10 a 13 de julho deste ano, são inspiradores também deste editorial.
O poema sugere as jaulas, as prisões e denuncia a desigualdade entre os que têm tanto e os que não têm nem para comer. E clama: o homem tem fome e precisa comer.
Nele, a idéia que nos provoca é a de que na desigualdade econômica e social tem-se também a desigualdade cultural, a exclusão de práticas, o não acesso e o convívio aos bens e lugares da cultura letrada.
Além dos COLEs, a ALB tem colocado em ação, por 25 anos, a edição da revista Leitura: Teoria & Prática, esforço que dá visibilidade ao desejo de romper com armadilhas. Como lidar com a desigualdade cultural em um país de profundas desigualdades sociais? Em que condições, com que força, nossas intervenções podem ajudar a modificar o estado das coisas tais como estão?
Sob a desconfiança de um modelo de leitor ideal que parece existir apenas em plano abstrato e a-histórico, fora das reais condições que de fato envolvem cada um de nós na prática da leitura, ponho-me a pensar nas armadilhas que é preciso quebrar.
Somos reconhecidos como leitores não só porque deciframos o escrito, mas por pertencermos a uma comunidade que tem à sua volta livros, revistas, imagens, e outros objetos da cultura letrada, e ainda vive por isso. Somos cercados de livros e revistas recém editados, comprados em livrarias ou já mais antigos, adquiridos em sebo, emprestados de amigos e bibliotecas, xerocados. Exercitamos no trabalho, no dia-a-dia, conversas sobre textos lidos, indagamos e refletimos com e sobre eles.Temos gestos e práticas rotineiras, dedicadas aos impressos e lugares em que guardamos esses objetos, lidamos com eles, lhes destinamos tempo e compartilhamos modos de perguntar e refletir sobre eles. Fazemos parte de uma comunidade que tem um jeito particular de ler. Um livro lembra outro, que remete a um filme, em que a cena já foi vista em uma pintura, que está em uma revista, que pode ser encontrada em um centro de memória. Lemos pela primeira vez, relemos a mesma obra várias vezes, abandonamos uma leitura iniciada, anotamos partes, saltamos os olhos diretamente pra o que os interessa ler. Uma idéia, uma cena, um argumento nos constitui como lugar de memória ou com uma experiência que de tão arrebatadora nos compele a sentir e entender o que somos e como somos. No mundo há muitas armadilhas, e é preciso quebrá-las.
Ao lado dessa comunidade de leitores, outras, muitas têm sido excluídas, submestimadas, desprestigiadas. O que nos dá uma idéia de pertencimento também nos distingue de tantas outras comunidades de leitores. Acumulamos um capital cultural com valor – status - reconhecido no meio social. Vivemos disso. De falar, escrever, ouvir e ler palavras nossas e dos outros. Muitas vezes, pelas palestras, cursos e publicações, somos remunerados. Na insistência de uma política de leitura que inclua leitores, que forme leitores, que amplie o universo de leitores ou práticas de leitura, promovemos congressos, participamos de assessorias, colaboramos com projetos junto a órgãos públicos. Produzimos um discurso em que a importância da leitura é debatida em suas diferentes nuances e singularidades. Construímos a crença no valor da leitura. No mundo há muitas armadilhas, e é preciso quebrá-las.
Segundo Bourdieu (Pierre Bourdieu, Leitura: uma prática cultural - Debate entre P. Bourdieu e R. Chartier.In: Chartier,R. Práticas de Leitura. SP: Estação Liberdade, 1996,p.238): “É possível que se leia quando existe um mercado no qual possam ser colocados os discursos concernentes às leituras. Se essa hipótese pode surpreender, até chocar, é porque somos precisamente pessoas que têm sempre sob a mão um mercado, de alunos, colegas, amigos, cônjuges etc a quem podemos falar de leituras.Terminamos por esquecer que, em muitos meios, não é possível falar de leituras sem ter ar pretencioso.”.
Vivemos nesta armadilha, de estarmos no lugar daquele que toma a palavra “em nome de” mas que luta para que as palavras sejam tomadas para si e por todos.
Vivemos na armadilha entre o que acreditamos e pelo qual lutamos, mas atentos e desconfiados do lugar, do qual falamos.
Somos leitores e escritores, mas nem todos os brasileiros o são, ou pelo menos não o são do mesmo modo. Para Britto (Luiz Percival Britto.Leitura e participação. In: Contra o consenso: cultura escrita, educação e participação. Campinas, SP, Mercado de Letras, 2003, p.153): “leitores em vários dos sentidos que esta palavra possa ter, já que o saber letrado não é eqüitativamente distribuído. Muitos não chegam a ter um domínio dos sistemas de referências que recobrem os textos escritos e convivência intensa com um conjunto coeso e complexo de discursos”.
Nesta direção, o conjunto de artigos deste número da revista Leitura: Teoria & Prática é mais uma iniciativa para desarmar diferentes armadilhas a que somos expostos, em que somos aprisionados.
[1] Presidente do Conselho Editorial, professora da Faculdade de Educação e membro do grupo de Pesquisa Alfabetização, Leitura e Escrita – ALLE/Unicamp

No hay comentarios:

Archivo del blog

 

Visitantes ingresados